Citricultura: A Laranja hoje
Blog
Citricultura: A Laranja hoje 🍊
Resumo: É crescente no mundo a preocupação com uma alimentação mais saudável e o advento da Pandemia da Covid-19 intensificou a procura por alimentos que aumentam a imunidade como os ri- cos em vitamina C. Nesse contexto, tem-se observado crescimento da demanda por frutas cítricas e redução da procura por sucos industrializados. O Brasil é o maior produtor mundial de laranja, sendo elevado percentual da fruta destinado para a indústria; assim, o País é também o maior fornecedor de suco de laranja do mundo com 74% do mercado global da bebida. Os maiores importadores do suco de laranja do Brasil são a União Europeia e os Estados Unidos. A produção de citros no Brasil está concentrada no polo citrícola de São Paulo e Triângulo\Sudeste Mineiro; a área de atuação do BNB1 responde por 7,0% da produção nacional, entretanto, o cultivo da laranja possui elevada importância social e econômica para Sergipe e Bahia no polo citrícola dos tabuleiros costeiros, onde está concen- trada quase 90% da área cultivada com a fruta na Região. O valor da produção gerado pela laranja na área de atuação do BNB em 2020 foi superior a R$700 milhões e a cultura gerou quase US$ 27 milhões com a exportação de suco de laranja.
Palavras-chave: Citros; produção; mercado; Nordeste.
Cenário Global
A laranja é a principal fruta cítrica cultivada no mundo, tendo sido produzidas 47,2 milhões de to- neladas na safra 2020/21, contra 35,2 milhões de tangerinas e 9,2 milhões de limão e lima. Para a safra 2021/22, as projeções do USDA (2022) são de crescimento de 3,8% na produção mundial de laranja, o que representa 1,8 milhão de tonelada a mais em relação à safra anterior. Essa estimativa é baseada na expectativa de crescimento da produção no Brasil, entretanto, de acordo com o Fundecitros (2022), a produção brasileira de laranja na safra 2021/22 foi 10,6% inferior à safra 2020/21, em decorrência de fatores climáticos adversos. Considerando que o USDA prevê queda na produção também na União Europeia, Estados Unidos e Egito, é mais provável que a produção mundial de laranja na safra 2021/22 tenha sido inferior à da safra 2020/21. O USDA prevê estabilidade na demanda mundial pela fruta in natura com crescimento de apenas 0,3%.
A China é o maior produtor global de citros e o segundo maior produtor de laranja, tendo respondi- do na última safra por 15,9% da produção mundial da fruta. Para a safra 2021/22, o USDA projeta uma produção de 7,6 milhões de toneladas de laranja na China, pequeno incremento em relação à safra an- terior. A maior produção e o menor processamento deverão levar a um maior consumo da fruta fresca e redução das exportações e importações.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de citros e o maior produtor global de laranja e de suco de laranja. Na safra 2020/21, o País foi responsável por 31% da produção mundial da fruta e por 63,4% do volume global de suco de laranja, detendo mais de 70% do mercado global do suco da fruta (USDA, 2022).
A União Europeia é o terceiro maior produtor mundial de laranja e limão e o segundo de tangerina; A Espanha responde por aproximadamente 60% da produção de laranja do Bloco. A União Europeia é também o segundo maior consumidor mundial da fruta. Entretanto, para a safra 2021/22, as perspec- tivas são de queda (-6%) na produção de laranja; além de condições climáticas desfavoráveis, devem contribuir para este cenário o aumento do custo de produção devido às fortes altas nos preços dos insumos agrícolas, eletricidade e combustíveis, reflexo das recentes crises econômicas mundiais causa- das pela Pandemia da Covid-19 e agravadas pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
A União Europeia é também o maior consumidor mundial de suco de laranja; nos últimos anos ocor- reu aumento da competição do suco de laranja com outras bebidas não alcoólicas e outros sucos de frutas, provocando redução do consumo de suco de laranja no Bloco; para a safra 2021/22, a redução estimada é de 5,2%. A menor oferta de laranja no Bloco deverá resultar em queda de 19,5% na produ- ção de suco, por outro lado, espera-se aumento de 2,3% das exportações em relação à safra anterior; mesmo assim, as importações devem ser menores. A Espanha é o maior processador de laranja da União Europeia beneficiando aproximadamente 20% da sua produção (USDA, 2020a).
O México é o quarto maior produtor mundial de laranja, entretanto enfrenta grandes desafios, os laranjais do País estão velhos, muitos pequenos produtores carecem de tecnologia de irrigação e não adotam práticas de manejo adequadas; a safra 2019/20 foi severamente afetada por uma seca e o greening1 continua a causar prejuízos. A Pandemia não prejudicou a produção de citros no México, pois as atividades agropecuárias foram consideradas essenciais pelo Governo Federal e os produtores adotaram medidas de segurança no campo.
Para a safra 2021/22, o clima deve favorecer a recuperação da produção de laranja no País (USDA, 2021). Com o aumento da oferta, o processamento deve ter crescimento expressivo, quase 26% em relação à safra passada; assim, as exportações de suco de laranja devem aumentar. Com aproximadamente 10% do mercado mundial de suco de laranja, o México é o segundo maior exportador global, atrás apenas do Brasil.
O País possui algumas vantagens competitivas na exportação de suco de laranja, a exemplo do acor- do com o Japão que lhe permite exportar até 8.000 toneladas de suco congelado concentrado (FCOJ) para este País com tarifa reduzida e o Acordo do Livre Comércio México UE, por meio do qual pode ex- portar até 30.000 toneladas de FCOJ para o Bloco, também com tarifa reduzida. Entretanto, o mercado americano é considerado mais lucrativo pelos mexicanos.
Os Estados Unidos são o quinto maior produtor de laranja no mundo, entretanto a produção vem caindo ao longo dos anos e para a safra 2021/22 espera-se uma nova redução de 13,2% na produção americana do fruto, um dos fatores que tem contribuído para este quadro é a ocorrência do greening dos cítricos. A menor oferta deverá resultar em redução no volume exportado e no processamento; para atender ao maior consumo, espera-se crescimento das importações da fruta e de suco de laranja (USDA, 2022).
- Ou Huanglonbing (HLB), doença de difícil controle causada pela bactéria Candidatus Liberibacter spp, transmitida às plantas por um inseto conhecido como psilídeo. A doença causa deformação, redução do tamanho e intensa queda dos frutos. Pode ocorrer ainda diferença na maturação de um mesmo fruto (ADEAL, 2021a).
O Egito é o sexto maior produtor de laranja e responde por mais de um terço do comércio global da fruta in natura; o País processa um pequeno percentual da sua produção. Para a safra 2021/22, o USDA prevê queda na produção em 16% em decorrência de fatores climáticos adversos o que deverá ocasionar redução também nas exportações(-14,7%); Os principais mercados para o Egito são, a UE, a Rússia, a Arábia Saudita e a China.
Grande parte da produção de laranja no mundo (35% na safra 2020/21) é destinada ao processamen- to e para a próxima safra, espera-se que esse percentual seja ampliado diante da maior produção de suco, principalmente no Brasil e no México, que deverá compensar a redução nos EUA e na União Europeia. Assim, estima-se que a produção mundial de suco de laranja apresente alta de aproximadamente 11%.
Entretanto, tem-se observado redução da procura por sucos industrializados no mundo e aqueci- mento da demanda por frutas cítricas in natura; de acordo com dados do USDA (2022), nas últimas quatro safras, o consumo mundial de tangerina, limão e laranja cresceu 16,7%, 18,2% e 1,2% respec- tivamente, enquanto o consumo de suco de laranja caiu 4,2% no mesmo período, com destaque para a União Europeia e os Estados Unidos, evidenciando a tendência mundial de migração para produtos naturais e menos processados. Nesse contexto, o consumo da bebida deverá ser ligeiramente menor, embora as perspectivas sejam de crescimento das exportações em especial do México.
Brasil
A citricultura no Brasil é fortemente concentrada na produção de laranja, tanto em termos de área, quanto de volume de produção. Além disso, a atividade também é concentrada espacialmente. São Paulo e Minas Gerais, onde se encontra o maior polo citrícola do País, concentram aproximadamente 70% da área cultivada com a cultura e 83% da produção nacional de laranja.
Entre 2016 e 2020, houve retração de 2,4% ao ano da área cultivada com laranja no Brasil, entretan- to, a produção não caiu na mesma proporção, apenas 0,3% a.a (Tabela 1), pois ocorreu contínua me- lhoria no rendimento da cultura no período. Com a ocorrência do greening, muitos produtores tiveram que erradicar plantas e passaram a adensar os plantios, o que levou a um aumento de produtividade. Em termos de valor de produção, o resultado foi positivo em 0,5% a.a, o que indica que houve também melhoria no preço médio pago pela fruta no período.
Dados preliminares do LSPA (IBGE), indicam que em 2021 a produção brasileira de laranja foi menor que a do ano anterior, mesmo tendo ocorrido expansão de área, o que indica que a produtividade foi menor pois teve influência da bienalidade negativa da safra 2020/21. Na safa 2021/22, mesmo sendo um ciclo de bienalidade positiva, houve redução na produção em decorrência da escassez de chuvas e geadas no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudeste Mineiro.
Elevado percentual da produção brasileira de laranja, aproximadamente 70%, é destinado ao pro- cessamento; o Brasil continua sendo o maior produtor mundial de suco de laranja e na safra 2021/22 deverá responder por quase três quartos das exportações globais do produto (USDA, 2022).
Área de Atuação BNB
Na área de atuação do BNB, a cultura citrícola de maior importância econômica também é a laranja. A região responde por 17,0% da área, 7,3% da produção e por 7,2% do valor da produção de laranja no Brasil. Em 2020, a cultura da laranja ocupou 97,9 mil hectares nessa região, tendo produzido 1,2 milhão de toneladas de laranja com a geração de R$ 782,8 milhões. Entretanto, a cultura na Região tem apresentado resultados negativos com redução da área, da produtividade, da produção e do valor da produção; o baixo volume de chuvas em 2018 e 2019 contribuiu para este quadro. Por outro lado, tem-se observado diversificação da citricultura com tendência de expansão de lavouras como de limão e de tangerina. A área plantada e a produção de laranja na área de atuação do BNB estão concentradas no norte da Bahia e no sul de Sergipe, esta região é atualmente o segundo polo citrícola do País.
Polo citrícola dos tabuleiros costeiros de Sergipe e da Bahia, produção de laranja em 2020
Fonte: Elaborado pelo BNB/Etene com base nos dados do IBGE (2022).
Bahia e Sergipe juntos, responderam em 2020, por 82,3% da área total cultivada e por 80,0% da produção de laranja na área de atuação do BNB; este resultado se deve, em grande medida, às tecno- logias geradas pela Embrapa, a exemplo da seleção de novos porta-enxertos. Entretanto, esta região possui sérias limitações e fatores de risco que comprometem a sustentabilidade da cadeia de citros, além da ameaça da ocorrência de pragas e doenças, Wilson (2021), pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, destaca:
- Limitações de solos que possuem baixa fertilidade natural e presença de horizontes adensados que conferem alta resistência a penetração radicular;
- Mudanças climáticas com intensificação de ocorrência de secas e elevação das temperaturas;
- Elevado custo com mão de obra;
- Predomínio da combinação do limão cravo como porta enxerto e a laranjeira pera como copa que é susceptível ao declínio2 e à morte súbita dos citros (MSC)3;
- Ausência de um plano de diversificação de copa e porta enxerto e suas combinações.
Entre 2016 e 2020, houve redução da área cultivada com laranja no polo; na Bahia ocorreu ainda queda no rendimento médio da cultura em 2018 e 2019; assim, a produção e o valor da produção fo- ram reduzidos nos dois estados. Vale ressaltar que a produtividade de laranja na área de atuação do BNB está entre as mais baixas do País. É provável que a atividade na Região esteja sendo viabilizada por meio de estratégias adotadas pelos agricultores a exemplo do consórcio com outras culturas.
De acordo com Martins et al. (2015), nos tabuleiros costeiros de Sergipe e da Bahia, a consorcia- ção de citros com culturas de importância alimentar e econômica é adotada por pequenos e médios produtores com o objetivo de reduzir os custos de produção e aumentar a rentabilidade dos estabe- lecimentos, sendo comum a consorciação com culturas de ciclo curto como feijão, milho amendoim, mandioca, aipim, fumo, feijão-caupi, batata-doce, inhame, abóbora, melancia ou fruteiras de ciclo rela- tivamente curto, a exemplo do abacaxi, mamão ou maracujá. No mesmo estudo, os autores mostraram que os estabelecimentos que cultivavam citros em monocultivo nos tabuleiros costeiros de Sergipe e da Bahia apresentaram piores desempenhos econômico e ambiental comparados às propriedades que adotavam o consórcio. Cultivos consorciados bem manejados, por promoverem maior biodiversidade, favorecem o equilíbrio ecológico reduzindo o risco de ocorrência de pragas e doenças e promovem a maximização do uso da terra, dos insumos, dos maquinários e da mão de obra necessária para os tratos culturais.
Em Alagoas e no Norte de Minas, a cultura da laranja apresentou desempenho distinto do observa- do no polo dos tabuleiros costeiros (Tabela 2). Diferente da Bahia e de Sergipe, ocorreu expansão da área e da produção da fruta nesses estados entre 2016 e 2020, com consequente melhora no resultado do valor de produção da cultura.
Alagoas possui a particularidade de cultivar predominantemente laranja lima (laranja doce de baixa acidez destinada ao consumo in natura), enquanto nos demais estados é mais comum o plantio de laranja pera.
A expansão da cultura em Alagoas ocorreu nas microrregiões de Serrana dos Quilombos e na Mata Alagoana, principalmente nos municípios de Santana do Mundaú e Branquinha. A organização dos pro- dutores da Região pode ter contribuído para este resultado, pois tem criado alternativas mais rentáveis de comercialização da produção.
No Norte de Minas, a produção de laranja está concentrada nos municípios de Pirapora e Formoso; o crescimento da produção na Região foi decorrente da ampliação da área, pois a produtividade foi decres- cente entre 2017 e 2019 (Tabela 2).
- Alteração no desenvolvimento normal da planta, caracterizada por perdas acentuadas de folhas, excesso de brotação no tronco, gradativo secamento de galhos, floradas extemporâneas e deficiência acentuada de nutrientes mesmo em pomares fertilizados. O agente causal ainda não foi diagnosticado (BALDASSARI, et al., 2003).
- Doença ainda de causa desconhecida, inicialmente ocorre a perda generalizada do brilho e coloração das folhas; geralmente, ocorre perda de turgidez, acompanhada de desfolha parcial; em estágio mais avançado, ocorre a desfolha total, pode acontecer a seca de ponteiros, falta de brotações e morte repentina da planta com os frutos ainda aderidos (ADEAL, 2021b).
Área, produção, produtividade e valor da produção de laranja na área de atuação do BNB
Variável | Estados | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | TGCA | Part (%) |
Alagoas | 7.323 | 10.996 | 11.851 | 12.301 | 11.504 | 9,5 | 11,7 | |
Bahia | 57.622 | 49.828 | 53.595 | 51.018 | 49.332 | -3,1 | 50,4 | |
Área | Sergipe | 46.675 | 42.019 | 33.555 | 32.379 | 31.269 | -7,7 | 31,9 |
(ha.) | Norte de Minas | 2.356 | 2.149 | 2.297 | 2.323 | 2.393 | 0,3 | 2,4 |
Demais estados | 4.481 | 4.242 | 3.729 | 3.393 | 3.442 | -5,1 | 3,5 | |
Área de atuação do BNB | 118.457 | 109.234 | 105.027 | 101.414 | 97.940 | -3,7 | 100,0 | |
Alagoas | 114.507 | 163.793 | 173.764 | 142.324 | 140.073 | 4,1 | 11,5 | |
Bahia | 825.283 | 665.986 | 604.023 | 574.211 | 595.404 | -6,3 | 48,9 | |
Produção | Sergipe | 489.156 | 421.353 | 354.960 | 364.766 | 378.422 | -5,0 | 31,1 |
(t) | Norte de Minas | 65.169 | 65.894 | 58.935 | 62.704 | 73.238 | 2,4 | 6,0 |
Demais estados | 28.525 | 30.156 | 28.284 | 26.161 | 29.518 | 0,7 | 2,4 | |
Área de atuação do BNB | 1.522.640 | 1.347.182 | 1.219.966 | 1.170.166 | 1.216.655 | -4,4 | 100,0 | |
Alagoas | 15,6 | 14,9 | 14,7 | 11,6 | 12,2 | -4,9 | – | |
Produtividade | Bahia | 14,3 | 13,4 | 11,8 | 11,3 | 12,2 | -3,1 | – |
(ton/ha.) | Sergipe | 11,3 | 11,1 | 11,5 | 12,0 | 12,5 | 2,1 | – |
Norte de Minas | 16,7 | 12,1 | 11,1 | 11,6 | 13,5 | -4,2 | – | |
Alagoas | 92.408 | 111.764 | 138.567 | 121.741 | 145.469 | 9,5 | 18,6 | |
Bahia | 385.014 | 344.889 | 370.819 | 336.688 | 317.265 | -3,8 | 40,5 | |
Valor da | Sergipe | 269.681 | 215.528 | 273.455 | 214.858 | 214.496 | -4,5 | 27,4 |
produção (mil R$)* | Norte de Minas | 48.037 | 49.348 | 41.285 | 54.371 | 71.312 | 8,2 | 9,1 |
Demais estados | 41.668 | 44.876 | 39.097 | 35.754 | 34.311 | -3,8 | 4,4 | |
Área de atuação do BNB | 836.808 | 766.406 | 863.223 | 763.412 | 782.853 | -1,3 | 100,0 |
Fonte: IBGE (2022).
*Valor da produção corrigido pelo IGP-DI dezembro de 2020. TGCA-Taxa Geométrica de Crescimento Anual.
Vínculos Empregatícios
O cultivo da laranja possui elevada relevância para geração de renda e de postos de trabalho nas áreas produtoras de Sergipe e da Bahia, entretanto, grande parte dos empregos gerados pela citri- cultura nessas Regiões é informal, pois a atividade é desenvolvida por pequenos e médios produtores, onde a força de trabalho é basicamente familiar. De acordo com o último Censo Agropecuário, 77% dos estabelecimentos com laranja (com 50 pés e mais) da Região são familiares e 80% das propriedades citrícolas possuem menos de 10 hectares (IBGE, 2017).
Em 2020, a atividade gerou 1.872 empregos formais na Região, apresentando um crescimento de 16,4% em relação a 2019, a Bahia foi o único Estado responsável por este crescimento passando a con- centrar 65,4% dos empregos formais gerados na Região pela cultura.
Vínculo empregatício no cultivo de laranja
Estados | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | part(%) | Var(%)(a/b) |
Sergipe | 734 | 814 | 724 | 826 | 634 | 33,9 | -23,2 |
Bahia | 1.479 | 1.437 | 1.420 | 760 | 1.225 | 65,4 | 61,2 |
Demais estados | 29 | 32 | 31 | 22 | 13 | 0,7 | -40,9 |
Nordeste | 2.242 | 2.283 | 2.175 | 1.608 | 1.872 | 100,0 | 16,4 |
Fonte: MTE/Rais (2022). |
Mercado Interno
A produção de laranja do polo citrícola dos tabuleiros costeiros da Bahia e de Sergipe abastece todo o Nordeste. Os produtores comercializam sua produção para intermediários, pequenas empresas be- neficiadoras e para a indústria de suco que se localiza principalmente em Sergipe, sendo as principais a Maratá e a Tropfruit, localizadas no Município de Estância e a Sumo, em Boquim. Existe ainda a venda direta em mercados e feiras livres (MARTINS et al., 2015) que geralmente são abastecidos pelos peque- nos citricultores, pois a indústria paga menos já que compra em grande quantidade.
O preço da laranja é influenciado por diversos fatores (Quadro 1), sendo os principais o volume de
oferta e o nível dos estoques.
Quadro 1 – Fatores que influenciam na composição do preço da laranja e suco de laranja
Fatores de alta | Fatores de baixa |
Dólar valorizado em relação ao Real | Queda no poder aquisitivo dos consumidores no Brasil e no mundo |
Redução dos estoques mundiais de suco de laranja | Novas opções de bebidas e maior busca por frutas cítricas in natura |
Queda da produção de laranja nos Estados Unidos, na União Europeia e no Brasil | Tendência de redução no consumo mundial de suco de laranja |
Crescente busca por alimentos ricos em vitamina C |
Em 2019, o elevado estoque de suco de laranja das empresas associadas à CitrusBR (Gráfico 1) con- tribuiu para a queda dos preços da laranja em todo o País (Gráfico 2). Além disso, a partir desse ano, houve uma forte redução das exportações de suco de laranja do Nordeste, o que certamente contri- buiu para a queda do preço pago pela fruta na Região.
Até 2019, os preços pagos pela laranja pera ao produtor em Sergipe e na Bahia tiveram comporta- mento semelhante aos de São Paulo; a partir do início de 2020, as cotações de Sergipe passaram a ser inferiores, o que pode ter contribuído para a redução na área plantada, levando à queda na produção e no valor de produção do Estado; em 2022, o preço da fruta para a indústria em Sergipe voltou a cair, nesse ano as chuvas foram acima da média em muitas regiões produtoras, o que pode ter prejudicado o rendimento industrial da fruta com consequente redução do preço.
A cotação da laranja possui ainda sazonalidade atrelada à oferta. Para a safra 2022/23, mesmo diante das perspectivas de uma safra melhor no cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo\Sudeste Mineiros, não se espera queda nos preços pagos pela indústria, pois nos dois últimos anos houve redu- ção dos estoques de suco de laranja (Gráfico 1) em decorrência da queda na produção.
Mercado Externo
As exportações de frutos cítricos in natura pelo Brasil são pouco relevantes quando comparadas aos envios de suco de laranja ao exterior. Em 2021, o faturamento com as exportações de suco de laranja foi de US$ 1,6 bilhão, enquanto a receita com as exportações de laranja foi inferior a um milhão de dólares (Tabela 4).
Entretanto, as exportações brasileiras de laranja apresentaram volume expressivo em 2017 e 2018, o que foi relacionado à redução da produção na Flórida. Com a recuperação da safra nos Estados Uni- dos, as exportações brasileiras de laranja para esse País voltaram a recuar nos anos seguintes.
Ao mesmo tempo em que ocorreu retração nas exportações brasileiras da fruta in natura, houve aumento das importações; de acordo com o USDA (2020a), em 2014 a Rússia proibiu a importação de frutas cítricas frescas dos EUA, da União Europeia, do Canadá, da Austrália e da Noruega. Para com- pensar a perda desse mercado, a União Europeia redirecionou suas exportações para novos mercados, como o Brasil, que em 2019 e 2020 importou laranja principalmente da Espanha. Em 2019, houve retração da comercialização da fruta in natura também para a União Europeia. Nesse período, ocorreu ainda redução do consumo de suco de laranja tanto nos Estados Unidos quanto na União Europeia.
Em 2021, houve pouca variação no volume e valor das importações brasileiras de laranja, entre- tanto ocorreu alteração nas origens, com forte retração na participação da Espanha e crescimento do Uruguai e do Egito. Nesse período, a oferta de laranja na Espanha foi reduzida e deu-se dificuldades de logística de exportação.
Exportação e importação brasileiras de laranja e suco de laranja (US$)
Ano | Exportação | Laranja | Importação | Suco de laranja | |
Exportação | Importação |
2017 | 15.062.849 | 15.083.500 | 1.940.175.048 | 2.741.867 |
2018 | 11.247.497 | 19.281.130 | 2.135.670.097 | 128.138 |
2019 | 1.554.919 | 22.794.487 | 1.909.301.437 | 77.298 |
2020 | 4.295.152 | 18.951.630 | 1.425.290.003 | 28.586 |
2021 | 953.321 | 18.695.561 | 1.623.471.062 | 67.497 |
Fonte: Mapa/Agrostat (2022). |
Com relação ao suco de laranja, mesmo com o dólar em alta no Brasil, o faturamento com as expor- tações em 2020 caiu; além da redução do volume enviado ao exterior nesse ano, houve também queda do preço do produto a partir de 2018. Em 2021, o faturamento com as exportações de suco voltou a crescer em decorrência do maior volume comercializado, pois o preço caiu.
São Paulo foi responsável por 97,4% do volume de suco de laranja exportado pelo Brasil em 2021; Sergipe foi o terceiro maior exportador, entretanto participa com menos de 1% das exportações bra- sileiras.
No Nordeste, o comportamento das exportações do setor citrícola segue o padrão nacional e o maior faturamento também se dá com o suco de laranja, que em 2021 representou 20% do valor total das exportações de suco de frutas da Região o equivalente a US$ 18,8 milhões.
Em 2021, Sergipe respondeu por 98% do valor das exportações nordestinas de suco de laranja que se destaca como um dos principais produtos agropecuários exportados pelo Estado, representando 59,4% do faturamento total. Entretanto, as exportações sergipanas do produto também têm apresen- tado declínio nos últimos cinco anos, com grande redução, principalmente para os Países Baixos (Holanda), onde fica o porto de Rotterdam que é o principal complexo de cargas da Europa, funcionando como um importante polo de distribuição de mercadorias para o interior do continente europeu.
Em 2021, a Bélgica recebeu 35,4% de todo o volume de suco de laranja exportado pelo Brasil e os Estados Unidos, outros 29,2%. Os Países Baixos são o terceiro maior consumidor do suco brasileiro com 25,4%. As exportações do Nordeste são destinadas principalmente para a União Europeia; a Bélgica e os Países Baixos receberam 80% das exportações nordestinas de suco de laranja em 2021.
Sustentabilidade
Todos os setores da agropecuária deverão sofrer consequências negativas advindas das mudanças climáticas. O futuro do setor citrícola nas áreas tradicionalmente produtoras é incerto, pois o aumento da temperatura e as alterações no regime de chuvas interferem diretamente na floração e, portanto, na produtividade da cultura que no Nordeste é cultivada principalmente sem irrigação. Além disso, há uma grave ameaça de ocorrência de doenças, a exemplo do greening (HLB), da decadência dos citros e da morte súbita dos citros; nesse contexto, o Semiárido brasileiro, onde o vetor do HLB possui pouca adaptação, é uma fronteira agrícola importante a ser explorada pela citricultura no Nordeste. A Embra- pa já possui porta enxertos tolerantes à seca e a salinidade em processo de registro, o que viabiliza a expansão da citricultura para esta Região.
Outra questão importante relacionada à sustentabilidade é a crescente exigência do mercado con- sumidor quanto à segurança do alimento, questões ambientais e sociais, em especial da União Euro- peia que é o principal destino das exportações brasileiras de suco de laranja. Assim, não somente a produção agrícola, mas a indústria de processamento de citros precisa investir em sistemas produtivos sustentáveis. É importante que sejam adotadas boas práticas agrícolas pelos citricultores, em cumpri- mento às legislações trabalhistas e ambientais e aos padrões de sustentabilidade.
Tendências e Perspectivas
- A pandemia da Covid-19 levou a um crescente consumo de produtos com elevado teor de vitamina
C no mundo, com o objetivo de aumentar a imunidade;
- A tendência é de que a demanda mundial por frutos cítricos continue elevada; as importações de citros pela União Europeia devem crescer na safra 2021/22 devido à redução estimada da oferta dos países produtores do Bloco;
- O Brasil deverá continuar como principal fornecedor de suco de laranja para a União Europeia;
- Há perspectiva de que a demanda chinesa por suco de laranja continue em expansão, sendo um mercado potencial para o produto brasileiro;
- É esperado que o México avance no mercado mundial de suco de laranja;
- O mercado está mostrando tendência de redução no consumo de suco de laranja concentrado
(FCOJ) nos Estados Unidos;
- Cresce no mundo as exigências quanto à produção sustentável e à segurança do alimento; portanto, será necessário cada vez mais investimento no setor;
- Espera-se crescimento da concorrência do suco de laranja concentrado (FCOJ) com outras bebidas não alcoólicas, outros sucos de frutas e por suco de laranja integral não concentrado (NFC);
- No Brasil, a tendência é de diversificação dos pomares de citros com a ampliação de áreas com limão e tangerina e de intensificação da colheita mecanizada e do adensamento de plantio com adoção de maior aporte tecnológico, portanto, as áreas produtoras do polo citrícola dos tabuleiros costeiros, entre Sergipe e Bahia, deverão perder ainda mais em competitividade em relação ao Sudeste do País;
- O conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem contribuído para o aumento do custo de produção agro- pecuária tendo em vista que grande parte dos insumos é importado;
- O cenário nacional é desafiador para os produtores de laranja que se deparam com um momento de aumento de custo de produção e queda no poder de compra do consumidor.
Fonte:
Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE
Caderno Setorial ETENE – Ano 7 | Nº 241 | Setembro | 2022